A trajetória de Railton Nascimento é marcada por uma constante: o compromisso inegociável com a defesa da educação e da classe trabalhadora. Professor de Filosofia, com 28 anos de carreira na Educação Básica e no Ensino Superior, iniciou sua militância sindical em 2007, ao ser convidado para integrar a diretoria do Sindicato dos Professores do Estado de Goiás (Sinpro-GO).
Desde então, não parou mais. Presidiu o sindicato em um dos períodos mais duros da história recente do país, após o impeachment de Dilma Rousseff, e coordenou a atuação da CTB-GO. Atualmente, lidera a Federação Interestadual dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino do Brasil Central (Fitrae-BC) e, agora, foi eleito coordenador-geral da Contee no último dia 13 de julho, durante o XII Conatee.
Railton inicia uma nova etapa à frente da Confederação com a consciência de que o cenário é desafiador. E, justamente por isso, a luta precisa ser mais firme e articulada do que nunca. “Chego à coordenação-geral da Contee com uma certeza: com os dirigentes que elegemos, com a consciência política, sindical e até revolucionária desses companheiros e companheiras, nós podemos, juntos, enfrentar qualquer desafio”, afirma.
“Ser professor no Brasil já é, por si só, um ato de resistência.” Com essa convicção, Railton Nascimento aceitou o convite para integrar a diretoria do sindicato em 2007. A partir dali, compreendeu que não bastava dar aulas. Era preciso lutar pelos direitos da categoria e enfrentar, com coragem, os retrocessos políticos e sociais impostos aos trabalhadores. “Assumi a presidência do sindicato em 2016, logo após o golpe contra a presidenta Dilma. Enfrentamos a reforma trabalhista, a reforma da Previdência, a pandemia… e resistimos com determinação”, recorda.
A experiência na base sindical foi, segundo ele, uma verdadeira escola política. “Presidir um sindicato da rede privada te prepara para qualquer outra missão, até para ser presidente da República”, afirma, com a bagagem de quem enfrentou os anos mais difíceis do sindicalismo recente.
Para Railton, a razão de existir de uma confederação está na base. “Não há trabalho de confederação que tenha êxito se não tivermos sindicatos fortes, com campanhas de comunicação e negociações exitosas.” Ele acredita que fortalecer os sindicatos passa por oferecer resultados concretos à categoria. “É preciso mostrar que o sindicato veio para conquistar direitos. E isso só se faz com mobilização.”
Além disso, é necessário garantir que a educação seja respeitada como um direito social, e não tratada como mercadoria. “Infelizmente, muitas vezes a educação tem sido tratada como uma mercadoria vil. E quem trabalha com educação, sejam professores, professoras, administrativos ou administrativas, sofre com assédio moral, salários atrasados, discriminações. O sindicato tem que ser o instrumento de defesa da dignidade dessas pessoas.”
“Não adianta eleger presidente progressista e deixar o Congresso nas mãos da extrema-direita”
Com uma leitura crítica do cenário político nacional e internacional, Railton aponta a necessidade de ação conjunta, tanto institucional quanto nas ruas. “Temos clareza da importância de reeleger o presidente Lula, mas também da necessidade de mudar a correlação de forças no Congresso Nacional. Precisamos de mais deputadas, deputados e senadores comprometidos com essa mesma agenda. Não adianta eleger um presidente progressista e deixar o Congresso nas mãos da direita e da extrema-direita, que travam as nossas proposições e bandeiras, ainda mais nesse contexto internacional tão delicado.”
Ele reforça: “Estamos vivendo um momento internacional de risco de guerra, com conflitos em curso na Ucrânia e no Oriente Médio, e possibilidade de agravamento. Uma nova ordem mundial se constrói com multipolaridade e multilateralismo, mas o imperialismo tenta desesperadamente manter sua hegemonia. E tudo isso se reflete aqui na nossa luta política e na luta pela educação.”
Contee: desafios e diretrizes para uma nova gestão
Um sindicalismo forte exige comunicação eficiente, base mobilizada e financiamento sustentável. Entre os principais desafios da Contee, Railton aponta a comunicação como prioridade estratégica. “Não é possível que as entidades sindicais continuem sendo tratadas pela mídia com desinformação e preconceito. Precisamos mudar isso. Mostrar o que é um sindicato, o que ele representa, sua importância para a vida dos trabalhadores.”
Ele também destaca a urgência de garantir sustentabilidade às entidades sindicais. “A reforma trabalhista desestruturou o financiamento sindical. A unicidade sindical tem como pilares o financiamento estável, a representação por categoria e o respeito à negociação coletiva. Precisamos reconstruir esse caminho.”
Além da contribuição assistencial, Railton defende a retomada do debate sobre a ultratividade das normas coletivas, essencial para proteger conquistas históricas, e a volta da homologação das rescisões nos sindicatos. ““Há um número enorme de rescisões absolutamente lesivas aos trabalhadores. E muitas vezes o trabalhador sequer tem conhecimento disso. Retomar a homologação é garantir direitos.”
Ele também chama atenção para o cenário cruel da pejotização. “Imagine se o Supremo Tribunal Federal aprova uma decisão que libere, de forma geral, a pejotização. É o fim da CLT, o fim da representação sindical no país. E, claro, o fim de qualquer perspectiva de um país desenvolvido com responsabilidade social e qualidade de vida para o povo.”
“A razão de ser do sindicalismo é servir à categoria”
Para Railton, a Contee deve ser um elo forte nessa articulação. “A razão de ser de uma confederação é fortalecer os sindicatos de base. E sindicato forte é aquele que conquista reajustes, cláusulas sociais e faz com que a categoria se sinta representada, num contexto em que o patronato é muito articulado, especialmente no ensino superior.
Sua caminhada sindical lhe conferiu uma visão ampla da luta de classes e da importância da unidade entre as diversas categorias. “Não defendemos só professores. Defendemos a classe trabalhadora como um todo”, enfatiza.
Complementa argumentando: “O que é a grande razão de ser do sindicalismo? É servir à categoria. É se colocar à disposição de professores, professoras e administrativos, que estão no dia a dia das instituições de ensino, muitas vezes sofrendo assédio moral e desrespeito aos seus direitos básicos.”
Regulamentar a EAD, fortalecer o coletivo jurídico e garantir direitos
Entre os projetos em curso, Railton Nascimento destaca a negociação coletiva nacional com a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino (Confenem), com mediação do Ministério do Trabalho, como uma iniciativa essencial para regular minimamente as relações de trabalho na Educação a Distância (EAD). Ele enfatiza que essa negociação é fruto de uma decisão do CONSIND da Contee e representa um avanço importante. “Temos um decreto recente, com resoluções que tratam da regulação da EAD. Essa foi uma defesa da Contee e estive presente em uma das reuniões com o MEC tratando dessa questão. É fundamental que esse caminho seja irreversível e de aprimoramento”, salienta. Para ele, é urgente criar um instrumento nacional que, a partir desse decreto, discipline as relações de trabalho no setor e impeça que a EAD continue sendo uma “terra de ninguém”.
Outro ponto central para a nova gestão, segundo Railton, é o fortalecimento do coletivo jurídico da Contee, que deve atuar em articulação com os jurídicos das entidades sindicais de base. “Essa é uma frente importante. Precisamos trabalhar de forma coordenada para enfrentar os desafios jurídicos que atingem a categoria, em especial no setor privado”, ressalta.
Railton também defende a rearticulação com o Sistema S. Ele observa que, embora algumas entidades sindicais já mantenham acordos com o Sistema S em determinadas regiões, a maior parte do país ainda não tem esse tipo de pactuação. “Precisamos abrir um diálogo nacional com o Sistema S para avançar nessas pactuações. E, além disso, fortalecer a nossa relação com os sindicatos de base. Temos que estreitar essas relações para que a Contee esteja cada vez mais conectada com as realidades locais e regionais”.
Não às escolas cívico-militares e a defesa da educação democrática
Railton Nascimento destaca que a escola deve ser um espaço realmente democrático, fortalecendo a escola pública e a gestão democrática, e critica o avanço indiscriminado das escolas cívico-militares no país. Segundo ele, “não há que se falar desse crescimento como solução para todos os problemas, pois substituem o modelo democrático previsto na legislação educacional brasileira, que a sociedade espera.”
Ele reforça a importância da articulação com o movimento estudantil, ressaltando que a luta pela educação de qualidade deve ser articulada e coletiva. Para Railton, o movimento estudantil é fundamental na defesa de bandeiras como o acesso, a permanência e a qualidade da educação. Ele pondera: “Precisamos fortalecer a nossa articulação com o movimento estudantil, porque educação de qualidade é uma luta que interessa a estudantes, professores e trabalhadores da educação.”
Para Railton, educação de qualidade respeita os direitos dos trabalhadores — professores, administrativos e estudantes. “Não é interesse dos estudantes ter professores e funcionários submetidos a salários míseros, sem convenção coletiva, com atraso de pagamento e assédio moral”, sinaliza.
Na esfera institucional, Railton defende o fortalecimento da presença sindical no Congresso Nacional para enfrentar projetos de lei que representam retrocessos e acompanhar a tramitação do Plano Nacional de Educação. “Não é possível que aquilo aprovado na Conae seja transformado num Frankenstein desidratado. Precisamos respeitar o texto avançado que foi aprovado, fundamental para o desenvolvimento do país.”
Ele também chama atenção para a saúde mental dos trabalhadores, impactados por jornadas extenuantes e condições precárias, ressaltando a urgência de cuidado e proteção. “Precisamos exigir respeito à mesa negocial para garantir condições dignas”.
“A humanidade chegou até aqui pela cooperação. É isso que precisamos recuperar”
A fala final de Railton é também um chamado à esperança e à ação coletiva. “Vivemos no meio da luta de classes em uma sociedade ultracapitalista. Não é fácil ser sindicalista no Brasil, a gente sabe disso. Mas o que nos trouxe até aqui, enquanto espécie, enquanto humanidade, foi a nossa capacidade, não de disputar entre nós, mas de cooperar.”
“Precisamos, enquanto classe trabalhadora, de muita unidade, muita cooperação entre nós, para construir uma nova sociedade. Uma sociedade que respeite quem produz a riqueza, que coloque os trabalhadores no centro da vida política, que devolva a esses trabalhadores, em forma de salários dignos, as riquezas que produzem.”
“Portanto, é hora de nos unirmos, de nos encorajarmos. E é hora de esta nova gestão, cheia de energia e disposição, mostrar, de fato, a que veio. Estou absolutamente disposto a coordenar essa grande orquestra e a promover as lutas e conquistas que estão diante de nós.”
Consciente da responsabilidade que assume, ele frisa o convite à construção coletiva. “Todos os sindicatos filiados, as federações e até os que ainda não estão na Contee: conheçam a Confederação, venham dialogar. Vamos promover lutas, avançar em conquistas e mostrar que o sindicalismo combativo tem muito a dizer e muito a fazer pelo Brasil.”
Por Romênia Mariani.
Fonte: Contee.